terça-feira, 26 de setembro de 2017

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  1. 1. FREI LUÍS DE SOUSA Almeida Garrett
  2. 2. FREI LUÍS DE SOUSA ATO I No cenário elegante do palácio de Manuel de Sousa Coutinho, em Almada, D. Madalena medita nestes versos do episódio de D. Inês de Castro: Naquele engano de alma Ieda e cego Que a fortuna não deixa durar muito ... Estes versos avolumam as dúvidas e os temores que há muito a torturavam (também a sua felicidade com Manuel de Sousa poderia não durar muito... ). Com efeito, nenhuma nova aparecera da morte de seu 1.º marido, D. João de Portugal. Por outro lado, a íntima convicção de Telmo da que D. João de Portugal não morrera e as frequentes confidências Maria alimentavam nesta uma curiosidade perspicaz e doentia. Tudo isto torturava e sobressaltava a consciência de Madalena. Entretanto os governadores castelhanos, como grassava a peste em Lisboa, resolveram instalar-se no palácio de Manuel de Sousa, em Almada. Manuel de Sousa, movido por um nobre orgulho patriótico, decide lançar o fogo ao seu palácio, exclamando ironicamente: Ilumino a minha casa para receber os muito poderosos governadores destes reinos... PAULA CRUZ
  3. 3. FREI LUÍS DE SOUSA ATO II Durante o incêndio, duas coisas se gravaram no espírito já de si sobressaltado de D. Madalena: o retrato de Manuel de Sousa, seu marido, e a visão inesperada do retrato de D. João de Portugal, iluminado pelas chamas. A destruição do primeiro retrato e a visão do segundo pressagiavam coisas terríveis... No palácio de D. João nunca Madalena conseguiu libertar-se do significado terrível de tal visão. No espirito dela, como no das outras personagens, abatia-se implacavelmente a fatalidade. E quando, na ausência de Manuel de Sousa, que tinha ido a Lisboa, Frei Jorge procurava tranquilizar D. Madalena, eis que um criado anuncia a chegada de um romeiro. - Quem és tu, Romeiro? - Perguntou Frei Jorge. E o Romeiro, apontando o retrato: NINGUÉM! PAULA CRUZ
  4. 4. FREI LUÍS DE SOUSA ATO III Uma angústia mortal se abatia sobre D. Madalena e Manuel de Sousa. A identificação de D. João de Portugal na pessoa do romeiro cobria- os de vergonha, a eles e à sua filha, Maria. A única solução para eles era agora separarem-se e refugiarem-se num convento. O romeiro tenta ainda desfazer o mal que tinha provocado, mas já era tarde. D. Madalena e Manuel de Sousa resolveram morrer para o mundo e vão tomar o hábito de S. Francisco. Maria, de rosto macerado e olhos desvairados, entra precipitadamente na igreja, interrompendo a impressionante cerimónia e escondendo o rosto no seio da mãe, grita, perante o espanto de todos: morro, morro de vergonha. E cai morta no chão. PAULA CRUZ
  5. 5. A AÇÃO ESTRUTURA INTERNA DA OBRA O conflito vai-se desenrolando e tornando cada vez mais angustiante pela sucessão destas três ações fundamentais: - O incêndio do palácio de Manuel de Sousa e a destruição do seu retrato (fim do 1.º ato); - A mudança para o palácio de D. João de Portugal e a chegada deste na pessoa do Romeiro (2. o ato); - A morte de Maria e a tomada de hábito de Manuel de Sousa e de D. Madalena (fim do 3. ° ato). PAULA CRUZ
  6. 6. A TRAGÉDIA EM FREI LUÍS DE SOUSA Podemos ver aqui já os elementos fundamentais da tragédia clássica: - Peripécias: incêndio do palácio, mudança para o palácio de D. João de Portugal, chegada do Romeiro, morte de Maria, tomada de hábito dos pais; - O clímax atinge-se com a chegada do romeiro e com a sua identificação com D. João de Portugal (reconhecimento ou anagnórise); - Catástrofe (coincidente com o desfecho da Ação dramática): morte física de Maria, e morte apenas para o mundo de Manuel de Sousa e D. Madalena. - Como elementos mais excitantes, ou de maior expectativa, além do conhecimento e do incêndio do palácio (já apontados), podemos destacar: a notícia de que os governadores espanhóis se queriam instalar no palácio de Manuel de Sousa; a confissão de D. Madalena (feita a Frei Jorge) de que amara o segundo marido desde a primeira vez que o vira; a cena 5 do ato III (diálogo entre Telmo e o Romeiro) e as 10, 11 e 12 do mesmo ato (diálogo entre Telmo, o Romeiro, D. Madalena e Maria), PAULA CRUZ
  7. 7. COORDENAÇÃO E CORRELAÇÃO DAS AÇÕES A) Ações simultâneas: - Ligadas por uma relação de causalidade: A notícia trazida de Lisboa por Frei Jorge de que os governadores queriam fixar-se em Almada no palácio de Manuel de Sousa e o incêndio provocado por este; - Ligados por uma relação de condição: A ida de Manuel de Sousa a Lisboa e a chegada do Romeiro... PAULA CRUZ
  8. 8. COORDENAÇÃO E CORRELAÇÃO DAS AÇÕES B) Ações passadas (causaram ou condicionaram ações do presente, ou criaram uma nova dinâmica na atuação das personagens): - Madalena recorda a Telmo a perda do primeiro marido em Alcácer Quibir (ato I, cena 2); - D. Madalena recorda três acontecimentos: É um dia fatal para mim; faz hoje anos que Casei pela primeira vez, ... Que se perdeu el-rei D. Sebastião... e que vi pela primeira vez a Manuel de Sousa (ato II, cena 10); - Manuel de Sousa refere-se ao seu casamento com D. Madalena (um erro? um crime?); ele e frei Jorge recordam os factos do fim do ato II e princípio do ato III (ato III, cena 1). PAULA CRUZ
  9. 9. COORDENAÇÃO E CORRELAÇÃO DAS AÇÕES C) Ações futuras Apresentadas por meio de pressentimentos, ou presságios:.. Consti- tuem molas de tensão que motivam as personagens nas ações pre- sentes: - O receio da vinda de D. João de Portugal, fonte de terrores contínuos para D. Madalena (do princípio do ato I até ao reconhecimento (fim do ato II). - Acontecimentos pressentidos pelos presságios contínuos de Telmo, explorados pela curiosidade de Maria (ato I, cena 4 e ato II, cena 1). PAULA CRUZ
  10. 10. ESTRUTURA EXTERNA DA OBRA Frei Luís de Sousa está dividido em três atos e cada ato subdivide-se em cenas. Assim, o ato I tem 12 cenas, o ato II tem 15 e o ato III, 12. PAULA CRUZ
  11. 11. PERSONAGENS | PROCESSOS DE CARACTERIZAÇÃO a) DIRETA - dada pelas palavras que as personagens produzem acerca de si próprias e pelas palavras de outras personagens; b) INDIRETA - deduzida pelo espectador a partir das atitudes, das ações e até das próprias palavras (na medida em que revelam procedimentos) das personagens. Os gestos, os "apartes" são também bons elementos de caracterização indireta. PAULA CRUZ
  12. 12. PERSONAGENS | D. MADALENA DE VILHENA "Em tudo o mais sou mulher, muito mulher". Esta afirmação de Madalena é uma exata autocaracterizarão de uma personagem romântica. Na realidade D. Madalena foi sempre dominada pelo sentimento do amor. Religiosa, sim, mas não compreendia que o amor de Deus pudesse exigir o sacrifício do amor humano. Amava a filha, sim, mas o amor de mulher (para com Manuel de Sousa) era superior ao amor de mãe. Senhora virtuosa, como convinha à sua dignidade social, mas essa virtude oscilava entre a realidade e a aparência (amou o segundo marido ainda quando vivia com o primeiro). O sentimento do amor à pátria confundia-se com o amor a si própria (a vinda dos espanhóis para casa do seu marido era uma ofensa pessoal: mas que mal fizemos nós aos governadores?) PAULA CRUZ
  13. 13. PERSONAGENS | MANUEL DE SOUSA COUTINHO Antes do aparecimento do romeiro, Manuel de Sousa era um herói clássico. Guiado sempre pela razão, enfrentava os acontecimentos com serenidade, deliberando sempre à luz de uma ordem de valores aceites universalmente: a liberdade, a moral, a honra, o nacionalismo. Veja-se, no ato I, a resposta que ele deu às tentativas dos governadores incendiando o palácio. Depois do aparecimento do Romeiro, a razão de Manuel de Sousa deixa-se perturbar pela emoção, revelando-se aqui esta personagem mais romântica do que clássica. Veja-se, por exemplo, a cena 1 do ato III, em que as suas palavras revelam, em tom verdadeiramente trágico, a violência incontrolável da emoção. PAULA CRUZ
  14. 14. PERSONAGENS | MANUEL DE SOUSA COUTINHO Antes do aparecimento do romeiro, Manuel de Sousa era um herói clássico. Guiado sempre pela razão, enfrentava os acontecimentos com serenidade, deliberando sempre à luz de uma ordem de valores aceites universalmente: a liberdade, a moral, a honra, o nacionalismo. Veja-se, no ato I, a resposta que ele deu às tentativas dos governadores incendiando o palácio. Depois do aparecimento do Romeiro, a razão de Manuel de Sousa deixa-se perturbar pela emoção, revelando-se aqui esta personagem mais romântica do que clássica. Veja-se, por exemplo, a cena 1 do ato III, em que as suas palavras revelam, em tom verdadeiramente trágico, a violência incontrolável da emoção. PAULA CRUZ
  15. 15. PERSONAGENS | MARIA DE NORONHA Menina inteligente e imaginativa, influenciada talvez pela intranquilidade inevitável da mãe e pelo sebastianismo de Telmo, também ela vivia no pressentimento de que qualquer coisa de terrível estava iminente sobre a sua família. Daí a sua fantasia incontrolável e a sua curiosidade invencível. Maria não nos aparece nunca como uma personagem real, tal o grau de idealização em que foi concebida. Angélica com uma criança e perspicaz como adulta, Maria não se impõe ao espectador (ou leitor) como uma criança real. MULHER ANJO PAULA CRUZ
  16. 16. PERSONAGENS | JOÃO DE PORTUGAL No decorrer dos dois primeiros atos; é uma personagem abstrata: existe na fantasia de Madalena, Maria e Telmo. Torna-se uma personalidade concreta quando aparece, no 3.º ato, na figura de romeiro, concretizando assim os receios que torturavam Madalena e quando tenta mesmo interferir na Ação dramática, procurando impedir o desenlace fatal. Mesmo nesta segunda fase, como entidade concreta, esta persona- gem não vale por si própria, tem apenas força simbólica, que movi- menta as outras personagens. D. João de Portugal é, pois, uma espécie de fantasma personificando a fatalidade, o destino mau, não em relação a si, mas em relação às outras personagens. No fim da peça ninguém se compadece dele como marido ultrajado, mas das outras personagens trágicas PAULA CRUZ
  17. 17. PERSONAGENS | TELMO PAIS Com os seus vaticínios (presságios), com os frequentes comentários aos acontecimentos, tudo imbuído de um sebastianismo arreigado, Teimo encarna em si o papel do coro na tragédia clássica. É também confidente, sobretudo em relação a D. Madalena e a Maria. Apesar de personagem secundária, Teimo é dotado de uma certa profundidade psicológica, provocada pelo conflito interior que o divide entre a fide- lidade a D. João de Portugal e a fidelidade a D. Madalena. PAULA CRUZ
  18. 18. PERSONAGENS | FREI JORGE É também confidente e participa com Telmo no papel próprio do coro da tragédia clássica. Ele é, porém, a personagem que contribui para que os acontecimentos trágicos sejam suavizados por uma perspetival cristã. PAULA CRUZ
  19. 19. O ESPAÇO Considerando o espaço onde se realiza a ação (o espaço cénico), cada ato tem o seu espaço: - No ato I a ação situa-se "numa câmara antiga, ornada com todo o luxo e caprichosa elegância portuguesa dos princípios do séc. XVII", no palácio de Manuel de Sousa, em Almada. - No ato II, a ação passa-se num "salão antigo, de gosto melancólico e pesado, com grandes retratos de família, (...) o de el-rei D. Sebastião, de Camões, e de D. João de Portugal", também em Almada. - No ato III, a ação desenrola-se na "parte baixa do palácio de D. João de Portugal, um casarão vasto sem ornato algum..., comunicando com a capela da Senhora da Piedade... " PAULA CRUZ
  20. 20. O TEMPO Tal como sucede com o espaço, também aqui podemos considerar aqui da ação ou ações que constam da peça e o tempo dramático, que é mais vasto que o primeiro. Quanto ao tempo da ação o primeiro ato decorre num fim de tarde (É no fim da tarde); o segundo ato passa-se oito dias depois (há já oito dias que aqui estamos nesta casa...); o terceiro ato decorre a altas horas da noite (É alta noite). Quanto ao tempo dramático, ele vem desde o casamento de D. João de Portugal com D. Madalena (antes de 1578), passando pelos sete anos em que ela procurou saber se ele era vivo ou morto, pelos catorze em que D. Madalena esteve casada com Manuel de Sousa, pelos oito dias em que Madalena viveu no palácio de D. João de Portugal, três dias (de um a três de agosto) em que D. João se apressava a chegar junto de sua mulher, até um dia (4 de agosto - HOJE!) Portanto, também o tempo dramático se vai estreitando, se vai estreitando, à medida que o desenlace trágico vai chegando ao fim. PAULA CRUZ
  21. 21. LINGUAGEM E MODOS DE EXPRESSÃO A linguagem é sempre digna e culta, conforme convém a uma obra com características de tragédia. Há, porém, muitas vezes, um tom declamatório, com muitas exclamações, reticências, interrogações, o que está de acordo com os processos românticos. De qualquer forma, a linguagem é acomodada às circunstâncias e personagens: linguagem carregada de inquietação e angústia em Madalena; digna, respeitosa sem deixar de ser familiar em Telmo; nobre e elegante, por vezes de tom didático, em Manuel de Sousa; confidencial, de tom religioso e moralizador, em Frei Jorge. PAULA CRUZ
  22. 22. CLASSIFICAÇÃO DA OBRA Na Memória Ao Conservatório Real, Garrett classificou a sua obra: é uma tragédia (...). Não sou tão desabusado contudo que me atreva a dar a uma composição em prosa o título solene que as musas gregas deixaram consagrada à mais sublime e difícil de todas as composições poéticas (... ). Contento-me para a minha obra com o título modesto de drama) desta de drama". Trata-se, portanto, de um drama romântico com algumas características de tragédia clássica. PAULA CRUZ
  23. 23. CARACTERISTICAS CLÁSSICAS Tem unidade de ação com progressão dramática das acontecimentos até atingir o clímax; o sofrimento (pathos) apodera-se das personagens e dos espectadores também progressivamente até à catástrofe / a incêndio provocado por Manuel de Sousa pode considerar-se um excesso, um desafio (hybris); há a ação' constante da fatalidade, da de tino; há os presságios lançadas sobretudo por Telmo- função do coro na tragédia grega; dá-se o reconhecimento (anagnórise) que dá origem à catástrofe; as personagens são nobres (aristocráticas) e sempre poucas em cena. Não obedece, porém à unidade de espaço e de tempo e não foi escrita em verso, como as tragédias clássicas, pelo que, e segunda opinião do próprio autor, é melhor considerar esta obra coma um drama. PAULA CRUZ
  24. 24. CARACTERISTICAS CLÁSSICAS Embora não perfeitamente histórica, a assunto é nacional, eivado da messianismo que constituída uma força de reação contra a dominação das espanhóis; algumas personagens, sobretudo D. Madalena e Maria, embora aristocráticas, são verdadeiras heroínas românticas pelo seu comportamento emocional; a religião consoladora aparece para suavizar a sofrimento trágica (tomada de hábito de D. Madalena e de Manuel de Sousa); uma sensibilidade cristã percorre toda a abra e a própria conflito tem, em grande parte, origem na ética cristã; a morte de uma personagem em cena admite-se no romantismo, mas não no classicismo; a linguagem e o estilo, como já se viu, têm características românticas.PAULA CRUZ
  25. 25. PARA UMA SISTEMATIZAÇÃO DIDÁCTICA DAS LEITURAS INTERPRETATIVAS DO FREI LUÍS DE SOUSA DE ALMEIDA GARRETT *- EXCERTOS DE UMA COMUNICAÇÃO DE CÂNDIDO MARTINS Leitura político-sociológica (…) está subjacente no Frei Luís de Sousa a ideológica exploração da similitude entre duas épocas históricas: o moderno autoritarismo cabralista, sob a aparência de um regime liberalista, assemelha-se à despótica ocupação castelhana. Neste sentido, a obra de Garrett não deixa de ser uma crítica mais ou menos velada à política vigente, ressaltando a revolta e sublevação de um homem (Manuel de Sousa) contra a tirania de um regime imposto, e em prol do elevado valor da liberdade e da independência ideológica. Imagem ficcional do empenhamento político-ideológico do próprio Garrett, o heroísmo de Manuel de Sousa deve ser interpretado como um significativo acto de vontade, por parte de um homem que preza a liberdade contra todas as formas de tirania. (…) PAULA CRUZ
  26. 26. (…) António José Saraiva sustenta que Telmo, verdadeira personagem central do drama, que o próprio Garrett interpretou na primeira representação, simboliza a alma profunda e fragmentada do autor, no seu aspecto mais dramático de interioridade partida entre dois conflitos de fidelidades (culto sebástico e crença no regresso do seu amo, a par da profunda afeição por Maria), de impossível harmonização: "A personagem que verdadeiramente se encontra no núcleo do Frei Luís de Sousa e em quem encarna o conflito é Telmo Pais" (…) O dramatismo intensifica-se quando o velho Telmo se consciencializa da passagem do tempo, dando-se conta de que a antiga veneração ou culto por D. João, que vive apenas na sua "lembrança mumificada", é substituída por uma sentida afeição bem real e viva pela jovem Maria de Noronha. Este é o cerne do conflito interior de Telmo Pais, aquele que lhe opõe a antiga "fidelidade de escudeiro" e nova afeição por Maria. Mudam-se os tempos e as circunstâncias, mudam os corações, e a pretendida coerência de sentimentos torna-se impossível. Perante este dilema interior, o velho aio acaba por transformar-se no anunciador da "morte do impostor" (D. João de Portugal). Essa morte do passado é-lhe solicitada expressamente pelo antigo amo, mas esse pedido estava já PAULA CRUZ
  27. 27. LEITURA MÍTICO-CULTURAL: O SEBASTIANISMO E O DESTINO PORTUGUÊS . Para Garrett, desencantado com o rumo da nação, umbilicalmente ligado a um passado quinhentista, e vivendo à sombra de uma pesada memória, o Portugal de Oitocentos só teria futuro libertando- se dessa persistente, infrutífera e mortal nostalgia passadista. O mito do Encoberto é perspectivado, negativamente, como sinónimo de paragem no tempo, de irrealidade, de sacrifício do herói na ca- tástrofe final. O regresso do (falso) D. Sebastião, na figura de D. João, implica a alteração do rumo da história e o aniquilamento. Por isso, diante do espelho do seu retrato, o representante do Portugal morto e sebástico se define como Ninguém. O Portugal do futuro não pode alimentar-se de estéreis utopias passadistas. PAULA CRUZ
  28. 28. LEITURA MÍTICO-CULTURAL: O SEBASTIANISMO E O DESTINO PORTUGUÊS O drama de Garrett fala de Portugal, num momento em que ele se interroga pela boca de Garrett. É um país que vive um presente hipotecado, à sombra de um obcecado sentimento de saudade passadista e sebastianista. Neste sentido, é uma peça assombrada, habitada por dois fantasmas – um quase fantasma (D. João de Portugal) e um outro fantasma mítico (D. Sebastião). O simbolismo alegórico que une os dois personagens está bem representado no nome do primeiro: o primeiro nome (D. João) remete-nos para alguns monarcas da História de Portugal; e no sobrenome (de Portugal), está cristalizado o próprio nome da Nação, num momento crucial da sua História. É preciso matar ou exorcizar o passado, para que Portugal possa ter futuro: "Um só personagem tem os pés no presente por tê-los no futuro, mas os restantes fantasmas acabam por convertê-lo em Frei Luís de Sousa, em cronista encerrado entre os quatro muros, entregue à evocação desse passado que o devorou vivo. É o duplo de Garrett que por sua vez escreverá o Frei Luís de Sousa para mostrar como também ele não tem presente ou só o tem sob a forma dessa escrita através da qual o presente – todos os presentes – manifesta a sua intrínseca e irremível irrealidade" PAULA CRUZ

domingo, 24 de setembro de 2017

ASPETOS DA VIDA E DA OBRA DE ALMEIDA GARRET

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“Viagens na minha terra” – Resumo da obra de Almeida Garret


A obra foi publicada originalmente em folhetins na Revista Universal Lisbonense entre 1845 e 1846, sendo editada em livro apenas em 1846. Tida como obra única no Romantismo português por sua estrutura e linguagem inovadoras, Viagens na minha terra é um marco para a moderna prosa portuguesa e um importante documento de referência para entender a decadência do império português.
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– Leia a análise de Viagens na minha terraBouquet de Rosas AzuisResultado de imagem para rosas azuisResultado de imagem para rosas azuis
Resumo
A obra é composta por dois eixos narrativos bem distintos. No primeiro, o narrador conta suas impressões de viagens, intercalando citações literárias, filosóficas e históricas das mais diversas, com um tom fortemente subjetivo e repleto de digressões e intertextualidades. Dentre as referências literárias, podemos levantar citações a Willian Shakespeare, Luis de Camões, Miguel de Cervantes, Johann Goethe e Homero. Já dentre as citações históricas e filosóficas, temos Napoleão Bonaparte, D. Fernando, Bacon e outros.
Já o segundo eixo, que é interposto no meio dos relatos de viagem, conta o drama amoroso que envolve cinco personagens. Essa narrativa amorosa tem como pano de fundo as lutas entre liberais e miguelistas (1830 a 1834).
O livro começa com o narrador contando sobre a sua vontade de partir em uma viagem de Lisboa à Santarém. Chegando a seu destino, o narrador começa a tecer comentários através da observação de uma janela. Nesse ponto, dá-se início à história de amor entre Joaninha e Carlos.
No romance, Joaninha é uma moça que mora apenas com sua avó, D. Francisca. Semanalmente, elas recebem a visita de Frei Dinis, que traz notícias do filho de D. Francisca, Carlos. Ele está ausente da cidade já há alguns anos e faz parte do grupo de D. Pedro. Frei Dinis e D. Francisca guardam algum segredo sobre Carlos.
Frei Dinis foi um nobre cheio de posses, mas resolveu abandonar tudo e sumir e volta para Santarém dois anos depois, como frei. O narrador critica essa mudança, por para ele qualquer um poderia facilmente ser ordenado frei de uma hora para outra.
Quando a guerra civil atinge Santarém, Carlos, que havia ido para a Inglaterra após desentender-se com Frei Dinis, resolve voltar à cidade. É quando ele reencontra sua prima Joaninha. Eles trocam um beijo apaixonado como se fossem namorados. Porém, Carlos tem uma esposa na Inglaterra, chamada Georgina, se vê atormentado pela dúvida de contar ou não a verdade para sua prima.
Ferido durante a guerra, Carlos fica hospedado próximo à casa de Joaninha. Após se recuperar, ele pede para que D. Francisca revele o segredo que ela esconde. Então, ela acaba contando que Frei Dinis é o pai de Carlos e que sua verdadeira mãe já morreu.
Ao saber da verdade, Carlos parte e volta a viver com a esposa. Porém, Georgina diz ter ouvido de Frei Dinis toda a história de amor entre Carlos e Joaninha e declara não mais amar o marido. Carlos pede perdão à esposa e diz não mais amar Joaninha, porém, Georgina não o aceita de volta.
Na parte final sabemos através de Frei Dinis o destino das personagens: Carlos larga as paixões e começa sua carreira na política como barão, mas depois de um tempo desaparece. Joaninha, sem seu grande amor, e D. Francisca morrem. Georgina vai para Lisboa. “Santarém também morre; e morre Portugal”, termina por relatar Frei Dinis.
Durante os relatos da viagem, o autor-narrador faz uma série de digressões filosóficas, reflexões sobre fatos históricos e crítica literária sobre diversos autores, tanto clássicos quanto modernos, e suas obras.
Dentre estes comentários, podemos citar o mais famoso deles: “Eu não sou romanesco. Romântico, Deus me livre de o ser – ao menos, o que na algaravia de hoje se entende por essa palavra”. Garrett, embora pertencente ao movimento romancista de Portugal, deixa claro nessa passagem uma crítica ao Romantismo então vigente. Uma crítica dirigida a um romantismo “fabricado” por escritores menores que buscavam modelo numa literatura fácil para agradar ao público, com interpretações abusivas e uma vulgarização do que seria o verdadeiro movimento modernista.

Personagens

As personagens de "Viagens na Minha Terra" funcionam como uma visão simbólica de Portugal, buscando-se através disso as causas da decadência do Império Português. O final do drama, que culmina na morte de Joaninha e na fuga de Carlos para tornar-se barão, representa a própria crise de valores em que o apego à materialidade e ao imediatismo acaba por fechar um ciclo de mutações de caráter duvidoso e instável.
Temos, então, as seguintes personagens e suas possíveis interpretações simbólicas dentro da obra:
Carlos: é um homem instável que não consegue se decidir sobre suas relações amorosas, podendo ser ligado às características biográficas do próprio Almeida Garrett.
Georgina: namorada inglesa de Carlos, é a estrangeira de visão ingênua, que escolhe a reclusão religiosa como justificativa para não participar dos dilemas e conflitos históricos que motivaram sua decepção amorosa.
Joaninha: prima e amada de Carlos. Meiga e singela, é a típica heroína campestre do Romantismo. Simboliza uma visão ingênua de Portugal, que não se sustenta diante da realidade histórica.
D. Francisca: velha cega avó de Joaninha. Mostra-nos a imprudência e a falta de planejamento com que Portugal se colocava no governo dos liberalistas, levando a nação à decadência.
Frei Dinis: é a própria tradição calcada num passado histórico glorioso, que no entanto, não é mais capaz de justificar-se sem uma revisão de valores e de perspectivas.
Sobre Almeida Garrett
Almeida Garrett nasceu na cidade do Porto, Portugal, em 1799, com o nome de batismo de João Leitão da Silva. Durante sua época de estudante de Direito, em Coimbra, passou a adotar o nome que o tornaria célebre: Almeida Garrett. Participou da revolução liberal e ficou exilado na Inglaterra em 1823. Durante esse tempo, casou-se e teve contato com o movimento romântico inglês. Em 1824 mudou-se para França e escreveu Camões e Dona Branca, obras que inauguraram o romantismo português. Ávido defensor do liberalismo, Almeida enfrenta outros diversos exílios ao longo dos anos.
Após retornar definitivamente a Portugal, passa a incentivar a literatura e o teatro, escrevendo inúmeros livros e peças teatrais. É dele, por exemplo, a iniciativa de criar o Conservatório de Arte Dramática e o Teatro Normal (atualmente Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa). Faleceu em Lisboa no dia 9 de dezembro de 1854.
Suas principais obras são: "Camões" (1825), "Dona Branca" (1826), "Romanceiro" (1843), "Cancioneiro Geral" (1843), "Frei Luis de Sousa" (1844), "D’o Arco de Santana" (1845) e "Viagens na minha terra" (1846).

ASPETOS DA VIDA E OBRA DE ALMEIDA GARRET

ASPETOS DA VIDA E DA OBRA DE GARRET


A OBRA VIAGENS NA MINHA TERRA FOI A MELHOR DE GARRET






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